segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Ensaio sobre ela




O sinal do farol estava verde e tudo que eu conseguia enxergar era como ele iluminava seu rosto triste, ela possuía uma expressão que misturava decepção com amargura, era real, estava a perdendo de vez. Chovia, mas não era aquela chuva forte com vento, era uma calmaria, escorria gotas pela janela que ela observava a fora com convicção, o momento combinava com a música que estava tocando em volume baixo, mas que atingira minha alma a cada verso cantado e sei que a dela também, pude ter a certeza depois que uma lágrima correra de seus olhos, seus pensamentos pareciam distantes, como se estivesse cansada de tudo o que vivemos, eu não a culpo, o único a culpar era eu mesmo. Continuo viagem dirigindo sem rumo algum, eu só queria a companhia dela por quanto tempo eu conseguisse, não queria aceitar o fim que se aproximava, não queria aceitar que perderia a felicidade que habitava em mim por tanto tempo, a razão era ela e mais ninguém.  De repente ela resolveu falar e era tudo o que eu não queria ouvir, “me deixe em casa, por favor,” nossos olhos se cruzaram e ela olhou no fundo deles e eu pude fazer a leitura em questão de segundos, ela havia desistido. Eu desnorteado comecei a fazer o trajeto, não conseguia pensar em nada e ao mesmo tempo em tudo, queria dizer as palavras certas que a faria ficar, queria dizer o quanto eu a amo e que poderíamos enfrentar tudo, mas no fundo eu sabia isso não seria o suficiente.  Quando cheguei a sua casa, ela abriu a porta do carro e antes de sair me olhou e disse “obrigada por tudo”, então tive que a assistir caminhar para longe de mim, sem olhar para trás, a cada passo que dava era um passo se afastando do meu coração, do meu mundo, do meu sentimento, do que construímos, do que vivemos, da nossa história, de nossos planos, do nosso futuro que não chegaria, do meu abraço, do meu beijo, da minha alma. Apoiei a cabeça ao volante e então um mar se fez em meus olhos, uma maré ruim que não acabaria tão cedo, as ondas estavam quebrando e me despedaçando aos poucos, e eu não podia fazer nada em relação a isso a não ser sentir, levanto a cabeça e ligo o motor, começo a dirigir em direção ao bar mais próximo. Chovia lá fora e dentro de mim.

Bruna Diniz Lopes

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