O sinal do farol estava verde e tudo que eu conseguia
enxergar era como ele iluminava seu rosto triste, ela possuía uma expressão que misturava decepção com amargura, era real, estava a perdendo de vez. Chovia,
mas não era aquela chuva forte com vento, era uma calmaria, escorria gotas pela
janela que ela observava a fora com convicção, o momento combinava com a música
que estava tocando em volume baixo, mas que atingira minha alma a cada verso
cantado e sei que a dela também, pude ter a certeza depois que uma lágrima correra
de seus olhos, seus pensamentos pareciam distantes, como se estivesse cansada de
tudo o que vivemos, eu não a culpo, o único a culpar era eu mesmo. Continuo
viagem dirigindo sem rumo algum, eu só queria a companhia dela por quanto tempo
eu conseguisse, não queria aceitar o fim que se aproximava, não queria aceitar
que perderia a felicidade que habitava em mim por tanto tempo, a razão era ela
e mais ninguém. De repente ela resolveu
falar e era tudo o que eu não queria ouvir, “me deixe em casa, por favor,” nossos
olhos se cruzaram e ela olhou no fundo deles e eu pude fazer a leitura em
questão de segundos, ela havia desistido. Eu desnorteado comecei a fazer o
trajeto, não conseguia pensar em nada e ao mesmo tempo em tudo, queria dizer as
palavras certas que a faria ficar, queria dizer o quanto eu a amo e que
poderíamos enfrentar tudo, mas no fundo eu sabia isso não seria o suficiente. Quando cheguei a sua casa, ela abriu a porta
do carro e antes de sair me olhou e disse “obrigada por tudo”, então tive que a
assistir caminhar para longe de mim, sem olhar para trás, a cada passo que dava
era um passo se afastando do meu coração, do meu mundo, do meu sentimento, do
que construímos, do que vivemos, da nossa história, de nossos planos, do nosso
futuro que não chegaria, do meu abraço, do meu beijo, da minha alma. Apoiei a
cabeça ao volante e então um mar se fez em meus olhos, uma maré ruim que não
acabaria tão cedo, as ondas estavam quebrando e me despedaçando aos poucos, e
eu não podia fazer nada em relação a isso a não ser sentir, levanto a cabeça e
ligo o motor, começo a dirigir em direção ao bar mais próximo. Chovia lá fora
e dentro de mim.
Bruna Diniz Lopes