quarta-feira, 22 de março de 2017

O dia que perdi alguém que amava


Era mais um dia comum, junto com a correria rotineira quem tem sido minha vida, minhas preocupações do dia eram de coisas da faculdade e trabalho, estava tendo um dia tenso mas nunca imaginei que poderia ficar infinitamente pior, a vida é assim, quando você pensa que está tudo estabilizado ela vem e te dá uma rasteira sem avisos prévios.
Quando recebi a notícia não acreditei, na verdade até o momento não aceitei que a senhora se foi, como, por que isso tinha que acontecer? Sempre tive uma imagem na minha cabeça de que a senhora me veria com vestido de noiva, estaria presente no meu casamento, afinal a senhora nunca perdeu um sempre esteve lá por todos os filhos, netos e parentes. Quando coloquei minhas mãos nas suas e senti seu corpo frio e vi seus olhos fechados ainda assim não aceitei, “não, não, não” era tudo o que pensava, a senhora nos deixou de repente, como eu poderia aceitar vó?
No momento que o pastor terminou de dar a palavra e todos se reuniram a sua volta para se despedir então eu comecei a sentir de que tudo aquilo era pra valer, colocaram a tampa do caixão e começaram a te levar para o carro a caminho do enterro, e eu só fiquei parada observando entre as pessoas a senhora passando, todos começaram a te seguir e eu fiz o mesmo, eu andei mas não sentia minhas pernas, meu corpo estava mole e meu coração aos pedaços.
Chegamos ao cemitério e todos andaram novamente atrás da senhora, o dia não estava como aqueles clichês de filmes em que há chuva, tempo nublado e pessoas com guarda-chuvas, o dia estava quente, ensolarado, o sol penetrava minha pele e eu desejava que aquecesse meu coração que parecia não ter mais vida, então caminhávamos entre vários túmulos que contavam histórias silenciosas, apenas fotos, flores, santos, números, nunca saberemos o que aconteceu com aquelas pessoas, iremos apenas supor em nossas mentes. Quando todos começaram a se despedir eu beijei sua testa e disse “obrigada por tudo vó”, só que a senhora não vai saber o que “tudo” significa porque nunca te disse vó, obrigada por ter cuidado da minha mãe e meus tios quando tudo dava errado na sua vida, obrigada por ter sido forte e enfrentado as pessoas, mesmo sendo uma “mãe solteira” de 7 filhos, obrigada por ter sido guerreira até em seus momentos finais de vida, obrigada por ter cuidado dos meus irmãos e primos, obrigada por ter sido minha única avó e me fazer sentir amada. Olhei pro céu, passarinhos voando não muito longe e o vento que batia nas árvores que pareciam se curvar para senhora, era hora do adeus, coloquei a mão em seu túmulo e disse Adeus, virei de costas e uma brisa suave bateu em meu cabelo que o balançou, a senhora sempre gostou dele não é mesmo?
Hoje eu descobri algo que nunca me disseram sobre a senhora, que quando era mais jovem você era ruiva! Seu cabelo escureceu com o tempo, mas era RUIVA! Fiquei surpresa, brava por ninguém nunca ter me dito, por sempre responder errado às pessoas quando me perguntavam de quem eu tinha puxado e dizia que era de outros parentes, mas não, sempre foi a senhora! E quando o vento balançou meu cabelo quando estava a deixando descansar, eu soube vó! Eu sempre irei levar uma parte de você comigo, seu cabelo em mim! Eu te amo e já sinto sua falta, descanse.